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O Retrato do Catolicismo em Final Fantasy X

Para muitos que jogaram a relação entre a religião e o jogo Final Fantasy X é nítida e facilmente perceptível, pois há, em seu enredo, muitas alusões ao catolicismo, budismo e ao islamismo. Portanto, o foco aqui será o primeiro destes.

Antes, aos que não conhecem um pequeno resumo: Final Fantasy X é um jogo do gênero RPG, originalmente lançado em 2001 para Playstation 2. Quanto a trama, ele é situado em um mundo fictício, nomeado Spira, esta que é ameaçada constantemente, através de ciclos, por uma criatura colossal, Sin. De acordo com a Yevon, uma poderosa organização e doutrinadora religiosa, tal monstro teria se originado através dos pecados (originais) dos ancestrais de Spira e isto se deve à excessiva utilização das máquinas naquele tempo (uma alusão clara à ciência).

Através do que foi descrito no começo, percebe-se como a religião é parte elementar do enredo do jogo. Aqui, a poderosa Yevon comanda e guia o mundo como uma teocracia e, através da esperança de seus ensinamentos, anseiam em deter o ameaçador Sin de uma vez por todas...pelo menos em teoria (você logo entenderá). Aliás, remetendo à fatos históricos, foi por muitas anos que a Igreja Católica liderou o "mundo" de maneira similar com a sua forte doutrina e poder absoluto, principalmente no período da Idade das Trevas (476 a 1453). Isto sem contar com a sua rígida política contra os avanços da ciência, alegando que a fé era o único caminho a ser seguido. Para ambos os casos (Yevon x Catolicismo), as penalidades contra os hereges (os que não respeitavam os seus dogmas) eram severas e a proibição a outras crenças e religiões eram mais que claras.

A cidade sede de Yevon é denominada "Bevelle" e ela pode ser considerada o Vaticano de Spira.

Contudo, acima desses rigorosos dogmas da Yevon, a raça "Al Bhed" se apresentava firmemente contra eles, os únicos que o fazem inclusive. Além disso, também se apropriam das máquinas livremente para benefícios diversos. Como consequência, eles são alvo constante do ódio e preconceito do resto da população de Spira. Com isso, podemos vê-los como uma representação direcionada as comunidades religiosas que sofrem frequentemente de discriminação. Algo que remete bem ao cenário de intolerância religiosa e até mesmo o racismo, situações que costumamos encarar vez ou outra nas mídias do mundo real.

Visto isso, retoma-se a outros desdobramentos do enredo, como a descoberta da corrupção da Igreja e a mentira acerca dos seus ensinamentos, que também são utilizados como forma de manipular a população. Também é revelado que Sin renasce constantemente justamente por causa dos próprios ensinamentos e rituais da Yevon (ou seja, um puro teatro de ilusões e falsas esperanças, a ciência não era a culpada afinal).

Um dos protagonistas, Tidus, observando o colossal "Sin". Se eu fosse ele, estaria correndo para bem longe daí.

A hipocrisia vai mais além, pois é averiguado que os mesmos utilizam máquinas e armas para algumas situações e quando questionados sobre isto, explicam evasivamente: "Estas são exceções" ou "Finja que você não os viu". Ou seja, as regras e ensinamentos religiosos que guiam e dirigem o mundo são extremamente diferentes das regras seguidas pela própria Yevon. Preciso destacar que a meu ver, tais atos podem ser vistos como críticas severas a algumas instituições religiosas que aproveitam da fé para manipular fiéis em más conjunturas, ou uma representação metafórica da Igreja na Idade das Trevas ou mesmo um aviso que a batalha entre a Fé e a Ciência nunca proverá resultados positivos.

GIF meramente ilustrativo.

Portanto, ainda assim, alguns críticos citaram a temática do jogo como antirreligiosa, algo que eu devo contrariar, pois de forma alguma eu consigo o visualizar desta forma e eu explico o porquê através de uma das protagonistas de Final Fantasy X, Yuna, que, antes de tudo, é uma seguidora devota da Yevon e pode ser facilmente visualizada como um Messias ou a própria representação de Jesus.

Yuna linda e plena em Final Fantasy X.

Logo no inicio do jogo, nós a conhecermos e imediatamente descobrimos o quanto ela é fiel à religião e de como está determinada a destruir o Sin. Para isto, ela deve realizar um ritual de peregrinação, visitando vários templos sagrados ao redor do mundo. Aqui, entra um ponto primordial para o elo do catolicismo e o enredo do jogo, pois no final desta peregrinação, Yuna deve sacrificar a si mesma para salvar a todos. Percebemos, contudo, que ela está 100% ciente deste fato e não regride em nenhum momento perante a tal destino. Isso faz alegoria ao próprio sacrifício e crucificação de Jesus em prol de um bem maior à humanidade.

Outra similaridade entre ambos reside em como Jesus e Yuna confrontam a corrupção da religião e as suas falsas crenças. Algo que a Yuna fez ao descobrir a terrível verdade sobre a má conduta e as mentiras da Yevon, confrontando-a logo em seguida. Por outro lado, Jesus condena, por exemplo, a hipocrisia dos Fariseus com respeito as suas pregações, como retratado em uma passagem da Bíblia: “Mas não façam o que eles fazem, pois não praticam o que pregam. Mas eles mesmos não estão dispostos a levantar um só dedo para movê-los”.

(Tradução: É uma tradição falsa que deveria ser jogada fora.) Lindíssima, falou tudo.

Ademais, a Yuna assume uma posição de suporte em seu grupo, possuindo habilidades de cura e proteção. Uma delas em específico é nomeada "Pray", que traduzindo para o português seria "Orar". Com esta habilidade, Yuna consegue restaurar um pouco de vida para cada membro do grupo ativo. E Jesus? Oras, em muitas passagens e parábolas da Bíblia as suas habilidades curativas são retratadas, várias consideradas milagres por seus fiéis. Sendo assim, é inegável alegar a semelhança de ambos os papéis quando se analisam as suas propriedades curativas sobre as pessoas. Mas se por acaso você ainda não consegue ver Yuna como uma representação de Jesus (sério?), abaixo você pode observar em que um dado momento do jogo, Yuna caminha sobre as águas! Bem, acho que depois disso, eu não preciso explicar muita coisa.

Pisou!

Há também outras alusões mais sutis ao Catolicismo de modo geral, como a hierarquia da Yevon, que se assemelha bastante ao da Igreja Católica, em que os Mestres assumem posições similares aos dos Cardiais e o Grande Mestre, ao do Papa. Por último, o nome do grupo “Os Cruzados” faz associação à legião, de mesmo nome, que lutou pela Igreja Católica contra os muçulmanos durante as Cruzadas.

Bom, quanto a isso..é isso! Lembrando que a intenção do post não é denegrir nenhuma comunidade religiosa, apenas buscar interpretações acerca deste assunto dentro do enredo de um dos melhores jogos do PS2. Obrigado!

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